Tem um ditado moderno que fala “Se você não está pagando por isso, então você é o produto”. Acho que faz certo sentido e gera muita discussão e polêmica. Eu julgava isso um pouco de exagero, mas essas últimas mudanças no Facebook me fizeram reconsiderar.
Já há muito tempo, o Facebook coloca anúncios na barra lateral. São chamadas histórias patrocinadas. Então você via ali “Fulana curte Shopping Curitiba”, “Fulano curte Heineken” e assim por diante. Depois de tanto tempo expostos a esse tipo de anúncio já estamos acostumados e não nos choca mais.
No entanto, os novos anúncios no feed de notícias têm uma dimensão mais agressiva. Subjetivamente mais agressiva. Para sabermos o que estamos falando, olhe esse que acabou de me aparecer:
Que tal? Uma tequilinha, clássico, tudo mundo toma. Jose Cuervo é uma marca conceituada. Nada de mais? Mais ou menos. Isso não apareceu no cantinho da tela, como uma coisa que pudesse passar despercebido. Inadvertidamente, o Facebook misturou esse fato “Fulana curte Jose Cuervo” no meio do meu feed de notícias. Ali, onde normalmente estão notícias de meus amigos, família e interesses, agora estava uma nota dizendo que a Fulana curte Jose Cuervo. Fora de contexto, não?
Pode-se dizer que o Facebook avançou um pouco a linha da publicidade dissimulada. É uma relação direta com a receita financeira imediata. A taxa de clique nessas histórias é imensa e as marcas adorarão investir ali. No entanto, a experiência com o serviço Facebook decai um pouco. Um exemplo similar são os links patrocinados na busca do Google. No início, apareciam em boxes amarelos, bem diferenciáveis dos resultados orgânicos. Hoje, os resultados pagos aparecem em um box quase branco que um leigo não discerne dos resultados não-pagos. Mesmo que é bom de vista, se estiver em um ângulo diferente do monitor, não consegue perceber a diferença do box para o fundo branco.
Tudo bem. Nós somos brasileiros (só nós, eles não) e sabemos bem como nos acostumar a serviços mal prestados. Já, já, esquecemos.
Mas há um aspecto de achovalhação da privacidade nos anúncios do Facebook. Eu curto Galinha Pintadinha, suponhamos :). OK, essa informação é pública entre meus amigos do Facebook, mas a sua divulgação era restrita à minha página e aos anúncios na barra lateral. Agora, ela é jogada na cara das outras pessoas como uma torta de marshmallow.
Você está vendo seu feed porque está curioso por conteúdo, quer saber o que está rolando, o que andam fazendo, o que têm para dizer. O Facebook aproveita seu momento de maior curiosidade para te plantar uma notinha sobre algum interesse (possivelmente escuso/bizarro/desinteressante) de algum amigo seu, porque alguma empresa pagou por isso. E é possível que seu amigo nem curta realmente a tal coisa. Ele simplesmente apertou Like porque quer saber mais sobre aquela coisa. Em um exemplo pessoal, atualmente estou odiando de coração certo banco cujo módulo de segurança não funciona. Porém, quem for ao Facebook, vai achar que sou fã de carteirinha, pois está lá que “João curte Banco XYZ”.
OK, é o preço a pagar. Somos os anunciantes das coisas que curtimos. Não pagamos para usar o espetacular Facebook, então alguém tem que pagar. Mas acho que vou pensar duas vezes antes de curtir a próxima fan page. OK, isso é uma piada, pois eu li o Complete Guide to Not Giving a Fuck.
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