Caro Ivan

Caro Ivan,

É incrível como a energia de algumas pessoas nos move de um lado pro outro. Sem o toque da mão, sem fundo dos olhos, só o pensamento e a lembrança. Ontem, quando recebi sua solicitação de conexão no Facebook, sofri um grande aperto no coração. Uma emoção boa, beliscada lá no fundo.

Caro Ivan

Você era apenas uma lembrança vaga da minha infância. Apenas um rapaz jovem que andava com meus irmãos e de vez em quando aparecia. Nem entendia se você morava por aqui ou se vinha de vez em quando. Lembro que meu pai tinha um carinho especial por você. Você acompanhou nossas pescarias algumas vezes. A memória é boa. Lembrar é como reunir um grupo de amigos ou familiares que o tempo, a distância e principalmente a circunstância teimaram em separar.

Ah, circunstância. Ela nos cria, permite-nos a vida. Depois, sumariamente nos divide. Mas ela anda junto a sua amiga memória. E se reforçam. Quanto mais empenha-se a circunstância em criar e esmaecer, mais se contrapõe a memória em fazer não esquecer.

Desculpe até por restringir sua imagem. Você tem sua vida, teve sua vida, terá ainda muita vida. Mas, para mim, você está na lembrança linda do meu pai. Recordo-me nitidamente das vezes em que ele perguntava a meus irmãos “E o Ivan, como tá? Por onde anda?”. Ele não era homem de falar muito dos ausentes. Mas, por você, ele tinha um carinho especial.

Dos dias recentes, lembro-me de quando meu irmão me contou que te deu a notícia. Nosso pai se fora. Ele disse que você chorou profundamente. Nosso pai era mesmo demais.

Desculpe por tornar este texto saudade. Desejo a você todo o mundo. Esta noite, vi sua mensagem, chorei. E escrevi isso chorando. Devem lá ir uns vinte anos que nos vimos pela última vez. E, hoje, sem ao menos aparecer, você me levou a um formidável passeio. Obrigado.

Forte abraço,
João.

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