Tá aí um filme pra marcar a vida do cabra. Um filme sobre a vida de um cabra. Um filme sobre a vida do cara. O cara.
Loki, se você já teve algum apreço pelos Mutantes, sugiro que você invista duas horas assistindo a esta cinebiografia do Arnaldo Baptista. Tem na Netflix. Vale a pena prestigiar.
O filme é de uma simplicidade profunda. Lindo, alegre, triste, estomacal. Dirigido por Paulo Henrique Fontenelle e produzido pelo Canal Brasil, Loki nos leva junto em cada fase da vida do mutante mais louco. Da juventude ao sucesso, ao LSD, à loucura. Do concreto de São Paulo ao bucolismo do interior de Minas. Do hospício a Londres.
O filme é de 2008 e contém depoimentos atuais do próprio Arnaldo. Participam também Sérgio Dias, Liminha, Dinho Leme, Roberto Menescau, Tom Zé e outros que conviveram com a intensa história dos Mutantes. Rita Lee é tema central, mas não participa.
Coincidentemente, assisti há alguns meses um documentário em três episódios da própria Rita Lee. Aos Mutantes, é dedicado apenas um terço do primeiro episódio. Tem também na Netflix. Após ver Loki, voltei e assisti novamente o primeiro episódio de Rita Lee, chamado Ovelha Negra. Vale como referencial.
Loki parece uma música dos Mutantes, principalmente pela dinâmica. Na verdade, acho que essa é a vida do Arnaldo. Tem uma dinâmica musical. Começa bestialmente alegre, genial. Não há tomada ou fotografia em que eles não estejam sorrindo ou zombando. Tudo é potencial, naturalmente belo e artístico. Com o tempo, o clima fica mais pesado. Drogas, separações. Um crescendo de pensamentos incompletos, decolagens mal feitas. A depressão acelera. Em 1981, época do disco Singin’ Alone, chega-se ao fundo do poço. “O acidente”. Depois disso, a vida – e o filme – são quase um prólogo da história principal. Ou melhor, talvez sejam um último capítulo, que termina com a triunfal reunião dos Mutantes em 2006. O prólogo é a vida hoje, pacífica como um sítio em Juiz de Fora. A alegria juvenil volta para fechar o ciclo.
Para fechar o post à altura, meu pequeno mutante. Semanas atrás, indo pra escola no banco de trás do carro, o Miguel cantarolou sozinho:
Excelente texto. Vê-lo-ei. Eu comparava Mutantes ao pequi. Era amar ou odiar. Exagero desnecessário. Escuto Mutantes numa boa, sem criar uma grande paixão, mas um leve e agradável “date”.
Hoje eu como pequi. Demorou, mas a persistência teve êxito.