A Miranda July é muito querida. Assistimos seu filme “Eu, Você e Todos Nós” já faz alguns anos. Minha memória de peixe já não me deixa lembrar do enredo, mas lembro que marcou. Era um filme leve e profundo. E essas são os mesmos adjetivos que uso agora para descrever o livro “O Escolhido Foi Você”.
O livro é centrado em um experimento que Miranda fez ao escrever o roteiro de seu último filme. Ela escolhia anúncios do Penny Saver, um tipo de Alô Negócios da gringa, e ia até a casa das pessoas para conhecê-las. Este método de seleção do entrevistado foi a grande sacada, pois atingiu um público muito inusitado. São pessoas que, em plena era da informação, usam um jornalzinho local para vender pequenos bens. Normalmente, é gente muito simples, não conectada e em momentos de grande dificuldade. Eles vendem desde girinos de sapo-boi a álbuns de fotografia usados.
São encontros intensos. Miranda vai acompanhada de uma fotógrafa e faz perguntas das mais diversas. As pessoas se dedicam a responder. Acho que somos muito carentes, muito sufocados pelo cotidiano. Quando aparece um alien na sua casa e começa a fazer perguntas com sentido, é uma oportunidade de se abrir. Falam sobre o item a venda, sobre a vida da pessoa, sobre o quintal dos fundos. “Qual foi o período mais feliz da sua vida?” Uma terapia.
Entre as entrevistas, Miranda comenta sobre sua própria vida de uma forma muito sincera e pessoal. Disserta sobre seu casamento, sua batalha contra a falta de concentração, seu futuro, suas aspirações e frustrações. E tudo isso de uma maneira muito meiga, sutil e verdadeira. Um assunto recorrente é o roteiro do filme. Ela já começou, escreveu muito e não está satisfeita. Está sem rumo e as entrevistas servem como espairecimento. Não chegam a inspiração, mas provocam questionamentos essenciais que acabam ajudando Miranda a evoluir seu projeto.
As fotografias das entrevistas estão no livro. É profundo ler a história real da pessoa desconhecida, percebê-la conversando abertamente sobre sua vida, e ao mesmo tempo ver sua imagem, fotos de seus objetos, sua casa. “O Escolhido Foi Você” é uma leitura agradável, leve e profunda. E Miranda July é uma querida. Recomendo.
Quem escreveu isso também é um querido. Só pode. Abraços, João.