Maquiagem não é coisa que faz parte do meu cotidiano. Uma vez por semana passo um batom, uma vez por mês uso rímel (quando tenho alguma reunião importante) e corretivo (pra esconder as olheiras) e, em festas e outros grandes eventos, ouso aplicar coisas avançadas como base, sombra e delineador. Isso acontece umas quatro vezes por ano – ontem, sábado 21/09, foi uma dessas oportunidades: fomos a um casamento. Mas meu causo começa um pouco antes disso, na quinta-feira, dia 19/09.
Todo mundo trabalhando, dez pessoas em silêncio na sala. Até que alguém diz “Carla, viu que amanhã ‘ quem disse, berenice?’ vai distribuir batons na Praça da Espanha?”. Não vi, claro. Não sou público-alvo e, no mais, peguei o folder sobre o evento que estava no banco do carro, amassei e pus no lixo sem ler – só soube que ele era ele porque tinha um igual na Polvo. Lamentamos em uníssono (“puxa vida, que horário ruim pra acontecer um negócio desse numa sexta-feira; os meninos do Ebanx podiam ir lá pra gente, mas é claro que não vão; mimimi mimimi etc”) e a vida seguiu. Pensei que eu precisava de um delineador e que deveria passar na loja pra comprar isso e aproveitar pra conhecê-la.
Na manhã de sexta, fui a uma reunião na Agência Valente, pra tratar de interesses de um cliente que temos em comum (o Instituto História Viva – conheça, ajude e divulgue). Saímos (eu + Milton e Gabi) de lá às 12h. Achei que seria legal passar no evento da Praça, que ficava no caminho, pra vermos o que estava acontecendo e, quem sabe, usarmos como inspiração.
Era apenas TUDO MUITO FOFO. Pra ganhar um batom, era preciso escolher uma das mil cores disponíveis em duas barraquinhas com mostruário, passar nos lábios, dar um beijinho num guardanapo que trazia uma frase bem alto astral estampada e pegar um voucher pra troca nas lojas da rede. Os guardanapos beijados iam sendo amarrados a balões de gás que foram liberados para o céu de Curitiba às 16h. Não vi a revoada, mas, anyway, achei eles presos muito lindos. Massa. Saímos de lá lindas e rebocadas de batão (menos o Milton, que mesmo sem beijar o guardanapo ganhou um voucher graças à glamourosa presença) e fomos trabalhar. Fizemos inveja pras amg com nossos vouchers e o dia seguiu.
Sábado cedo, sol lindo, temperatura amena. Fui fazer o quê? Curtir no parque com o Miguel. Trabalhar. Saí da Polvo perto da hora do almoço e segui pra ‘quem disse, berenice?’ da Comendador Araújo. Entrei na loja e foi meio que atravessar um portal. A experiência foi quase comovente. Vocês terão a oportunidade de saber do que estou falando lendo o relato abaixo, mas recomendo muito que visitem uma loja (principalmente os meninos, para assim poderem me dar presentes):
Tocava uma música legal dos anos 80 (desculpa ser adulta e gostar dessas coisas) e tinha um cheiro gostoso (não sinistro inesquecível cefaleia, como na ZARA). Entrei e ninguém falou comigo (AMO). Dei uma olhada geral e pedi ajuda pra achar um delineador. A mocinha que me atendeu devia ter metade da minha idade e não me julgou por eu ser eu naquele lugar – sorriu, foi solícita e simpática. Me mostrou os dois modelos disponíveis, fiz umas perguntas, escolhi qual eu preferia e ela me deu uma sacolinha fofa, pequena (suficiente pra caber um monte produtos da loja, já que todos os produtos são pequenos) com meu escolhido dentro – seria a cestinha em outra loja. Aí comentei sobre o voucher, esperando ser tratada como uma cliente usando cupom do Peixe Urbano. Ela vibrou com sinceridade: “NOSSA, que legal que você tem o voucher! Escolhe ali o teu batom.” Escolhi – SOZINHA, muito amor. Aí dei um rolê geral, desejei tudo – peguei também um esmalte e cobicei os perfumes, todos bem doces e com cheirinho de frutas.
Fui pro caixa. A moça que me atendeu elogiou horrores o esmalte que eu escolhi, elogiei o esmalte que ela estava usando. Ela me explicou como tinha conseguido chegar naquela cor, tentou fazer o mesmo com os demonstradores da loja, não conseguiu – e não tentou me fazer levar nenhum deles. Me orientou sobre quantas mãos passar daquela cor que eu escolhi pra ficar bem fechadinho, anotou com alegria meus dados da troca do voucher, enquanto eu elogiava os perfumes. Ela perguntou de qual eu tinha gostado mais e me deu uma amostra.
Gastei trinta e poucos reais e ainda saí com um batom grátis. Tinha tudo pra ser tratada como uma qualquer (que de fato sou), mas me senti especial demais. As meninas do caixa se despediram sorrindo, me disseram pra voltar na próxima semana, logo a coleção primavera verão de esmaltes estará nas lojas – e os esmaltes terão cheirinho! Me desejaram bom findi, tchau, beijo, sorrisos, uma coisa muito inédita. Todas as meninas pareciam estar trabalhando com alegria e eu acho que é que todo mundo deveria sentir no trabalho – eu sinto e isso me faz feliz demais. A simpatia era sincera, não era mecânica e nem parecia ser ensaiada. Ninguém tentou me empurrar nada, nem me julgou por eu não estar linda e maquiada, ter gastado nem 40 pilas e ainda levado um batom na faixa. As embalagens, os displays, as vendedoras, TUDO era lindo e arrumadinho, alegre, colorido. Saí bem apaixonada e, pra completar, cheguei em casa e fui ler as embalagens: instruções de uso e armazenamento são escritas no modo “amiga”, sem aquela linguagem tradicionalmente empolada que normalmente se usa pra esse tipo de informação. Coisas como: “Quer bater um papo, tirar dúvidas? Liga pra gente no 0800 726 6482, entra lá no site www.quemdisseberenice.com.br ou manda um email pra oie@quemdisseberenice.com.br, a gente adora conversar!”.
Aprendi um monte – sobre PDV e embalagem, sobre como tratar e ser tratada no varejo, sobre como é fácil passar delineador com um aplicador no formato de caneta. Adorei tudo, e a coisa toda não durou nem 15 minutos. Voltarei pra comprar o perfume de laranja e os esmaltes com cheirinho, pelo menos. Que aula ótima in loco. E que gostoso é não precisar puxar sacos e ter falar bem do que é ruim! Vou fazer mais disso, pratique você também – eu acredito.