Como vender carros pra uma mulher

– Olá, bom dia! Qual seu nome?
– Bom dia, me chamo Carla.
– Olá, Carla. Sou Fulano. Como posso te ajudar?
– Quero conhecer o “carro X”.
– Belo carro! Infelizmente não tenho nenhum aqui na loja no momento, entregamos o último ontem. Mas vamos até a minha mesa, posso te mostrar uma apresentação ali e já consulto quando teremos alguma unidade aqui disponível.
– OK.

Sentamos. Fulano abre o PC.

– Olha só, essas são as alternativas de cor.


Preto, branco e três cinzas. Acho inovador. Reviro mentalmente os olhos e mando:
– Essa não é uma prioridade pra mim. Vi que há duas versões disponíveis do carro no site, mas não encontrei exatamente as diferenças entre elas. Quais são?
– Ah, os opcionais são bem diferentes de uma versão pra outra.
– OK, mas a motorização é a mesma?
– Sim. Mas a versão top tem teto solar, bancos em couro, é um carro lindo!
– Entendo. Até gosto de carros lindos, mas prefiro aqueles que atendam à minha necessidade de espaço interno, de navegação e de torque. Qual a capacidade em litros do porta malas do “carro X”?
– Tenho aqui uma tabela com as dimensões do porta malas. Ele tem cinquenta e x cm de altura…
– Moço, eu quero saber quantos litros de capacidade o porta malas tem. Eu não sei as dimensões em cm de outros porta malas, então não poderia compará-las.
– Ah. Ele tem xxx litros, é bem grande.
– Joia. E o navegador? Outros modelos da marca usam o mesmo, podemos antecipar isso?
– Não usam. Infelizmente, esse modelo tem um sistema específico de multimídia.

via GIPHY

O cara não me perguntou nada. Nada. Não me perguntou o que eu procurava no carro, por que procurava aquela carro, qual carro eu tinha, por que queria trocar, se eu queria conhecer algum outro carro da marca. Nada. Na-da. NADA VIAAAADOOOOOOO. Só me ofereceu perfumaria. Eu tento e me esforço, mas é difícil não pensar que toda essa interação truncada só rolou porque sou mulher e estava sozinha – sem um homem, I mean.

Tudo bem, Fulano. Te agradeço pelo tempo investido em nossa interação, porque só me deixou mais segura do que eu já estava sobre aquilo que meu coração, peludo como meu sovaco, já tinha decidido: comprarei de uma mina. E vou comprar tudo o que conseguir de minas até que os homi entendam que eu sei o que quero e o que quero não é só ~lindo.

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Alive Inside: Um filme pra chorar e sorrir e mexer a bunda do sofá

De acordo com o IBGE em 2016, 82 anos é a maior média de expectativa de vida para as mulheres brasileiras (diz respeito às senhoras que vivem em SC, me apropriei porque é aqui do lado). Em 2017 completarei 41 anos e isso me coloca num lugar meio desconfortável, que é o ponto médio dessa curva e, portanto, aquele momento que cada novo dia significa mais passado do que futuro. Sei que isso e estatística e que pode furar e, no mais, eu vim pra esse mundo pra confusionar e fugir da curva. Anyhow, a proximidade desse marco somada ao tanto que tenho pensado nos últimos tempos me faz muito metafísica e questionadora.

Mais passado do que futuro: não sei lidar.

Entre viver, rir muito, chorar muito e elucubrar demais, no último findi achei que já era tempo de desempoeirar a lista de desejados da Netflix e pinçar um título. Poderia ter assistido a dois, tendo em vista o tempo que passei escolhendo, mas isso não vem ao caso. Cliquei no ALIVE INSIDE e abri as portas da percepção pra uma experiência muito valiosa.

A produção é simples e a ideia do Dan, que é o assistente social cuja experiência originou o roteiro do documentário, é muito alcançável no sentido de que não é uma invenção. Ao contrário, é uma coisa que gente ordinária (tipos TODO MUNDO) faz sempre e que, talvez em virtude do sempre, não percebe o poder que a coisa tem. O trabalho dele é introduzir num asilo norte-americano uma terapia relacionada à música que consiste, basicamente, em colocar canções significativas num iPod Shuffle, botar os fones na pessoa, dar play e ficar perplexo com o que acontece.

Marylou está a minha personagem preferida, pode ser que amanhã eu escolha outro.

Marylou está a minha personagem preferida, pode ser que amanhã eu escolha outra.

“Canções significativas” simplifica um pouco a coisa. As músicas nos iPods na verdade têm relação com o que se sabe sobre a vida dos pacientes, que são pessoas com diferentes níveis de demência ou Alzheimer. Alguns não se comunicam, outros não recebem visitas, então é preciso juntar umas poucas referências e usá-las para levantar um compilado de canções que façam sentido dentro daquele contexto (que podem ser apontadas pela faixa etária da pessoa, profissão, estado civil, religião, etc).

Bicho, o que se passa em seguida ao PLAY nos apetrechos é uma coisa que não pode ser verbalizada. É uma arrebatação muito poderosa e realmente transformadora na vida dos personagens. As pessoas são invadidas por uma onda de vida instantânea, tudo que é possível ver no corpo delas reage de forma automática ao que sai dos fones. Minha dica é prestar atenção nos olhos da galera. #chorei


O trailer fala mais do que meu textão.

Além do empirismo aplicado que mostra resultados muito lindos do experimento, o filme traz uma porção de entrevistas com cientistas, médicos, músicos e outros profissionais que trabalham com idosos nos EUA. Gente que tem conhecimento comprovado a respeito da efetividade exponencialmente maior desse tipo de terapia em relação ao uso de medicamentos. Oliver Sacks (eterno S2) conta pra gente que, além da música, não há na ciência registro de outro estímulo sensorial que mobilize tantas partes do cérebro ao mesmo tempo. Nunca soube disso, mas sempre senti, PQ OLHA vou falar quantas vezes um DJ salvou a minha vida (eventualmente sendo o DJ eu mesma).

Por total coincidência, na semana passada estávamos eu e minha filha Ana fuçando nas gavetas da escrivaninha dela e o iPod Shuffle pulou de lá. Ela pegou a parada e disse “haha, vou colocar isso aqui no lixo”. Diante do meu olhar on fire, ela disse “ué, não serve pra mais nada?!?!?!?!”. Malditos millenials. Acho que foi pra ela e pra mim que escrevi este texto: esse iPod vai parar nas orelhas de algum velhinho necessitado e vai ser afudê.

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Cê tá pensando que eu sou loki, bicho?

arnaldo-baptista

Fases do Arnaldo

Tá aí um filme pra marcar a vida do cabra. Um filme sobre a vida de um cabra. Um filme sobre a vida do cara. O cara.

Loki, se você já teve algum apreço pelos Mutantes, sugiro que você invista duas horas assistindo a esta cinebiografia do Arnaldo Baptista. Tem na Netflix. Vale a pena prestigiar.

O filme é de uma simplicidade profunda. Lindo, alegre, triste, estomacal. Dirigido por Paulo Henrique Fontenelle e produzido pelo Canal Brasil, Loki nos leva junto em cada fase da vida do mutante mais louco. Da juventude ao sucesso, ao LSD, à loucura. Do concreto de São Paulo ao bucolismo do interior de Minas. Do hospício a Londres.

O filme é de 2008 e contém depoimentos atuais do próprio Arnaldo. Participam também Sérgio Dias, Liminha, Dinho Leme, Roberto Menescau, Tom Zé e outros que conviveram com a intensa história dos Mutantes. Rita Lee é tema central, mas não participa.

Coincidentemente, assisti há alguns meses um documentário em três episódios da própria Rita Lee. Aos Mutantes, é dedicado apenas um terço do primeiro episódio. Tem também na Netflix. Após ver Loki, voltei e assisti novamente o primeiro episódio de Rita Lee, chamado Ovelha Negra. Vale como referencial.

Foto que postei no Instagram em 17/outubro/2012 (um ano atrás), enquanto assistia Ovelha Negra pela primeira vez.

Foto que postei no Instagram em 17/outubro/2012 (um ano atrás), enquanto assistia Ovelha Negra pela primeira vez.

Loki parece uma música dos Mutantes, principalmente pela dinâmica. Na verdade, acho que essa é a vida do Arnaldo. Tem uma dinâmica musical. Começa bestialmente alegre, genial. Não há tomada ou fotografia em que eles não estejam sorrindo ou zombando. Tudo é potencial, naturalmente belo e artístico. Com o tempo, o clima fica mais pesado. Drogas, separações. Um crescendo de pensamentos incompletos, decolagens mal feitas. A depressão acelera. Em 1981, época do disco Singin’ Alone, chega-se ao fundo do poço. “O acidente”. Depois disso, a vida – e o filme – são quase um prólogo da história principal. Ou melhor, talvez sejam um último capítulo, que termina com a triunfal reunião dos Mutantes em 2006. O prólogo é a vida hoje, pacífica como um sítio em Juiz de Fora. A alegria juvenil volta para fechar o ciclo.

Para fechar o post à altura, meu pequeno mutante. Semanas atrás, indo pra escola no banco de trás do carro, o Miguel cantarolou sozinho:

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Eu disse, Berenice!

Maquiagem não é coisa que faz parte do meu cotidiano. Uma vez por semana passo um batom, uma vez por mês uso rímel (quando tenho alguma reunião importante) e corretivo (pra esconder as olheiras) e, em festas e outros grandes eventos, ouso aplicar coisas avançadas como base, sombra e delineador. Isso acontece umas quatro vezes por ano – ontem, sábado 21/09, foi uma dessas oportunidades: fomos a um casamento. Mas meu causo começa um pouco antes disso, na quinta-feira, dia 19/09.

Todo mundo trabalhando, dez pessoas em silêncio na sala. Até que alguém diz “Carla, viu que amanhã ‘ quem disse, berenice?’ vai distribuir batons na Praça da Espanha?”. Não vi, claro. Não sou público-alvo e, no mais, peguei o folder sobre o evento que estava no banco do carro, amassei e pus no lixo sem ler – só soube que ele era ele porque tinha um igual na Polvo. Lamentamos em uníssono (“puxa vida, que horário ruim pra acontecer um negócio desse numa sexta-feira; os meninos do Ebanx podiam ir lá pra gente, mas é claro que não vão; mimimi mimimi etc”) e a vida seguiu. Pensei que eu precisava de um delineador e que deveria passar na loja pra comprar isso e aproveitar pra conhecê-la.

Na manhã de sexta, fui a uma reunião na Agência Valente, pra tratar de interesses de um cliente que temos em comum (o Instituto História Viva – conheça, ajude e divulgue). Saímos (eu + Milton e Gabi) de lá às 12h. Achei que seria legal passar no evento da Praça, que ficava no caminho, pra vermos o que estava acontecendo e, quem sabe, usarmos como inspiração.

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Era apenas TUDO MUITO FOFO. Pra ganhar um batom, era preciso escolher uma das mil cores disponíveis em duas barraquinhas com mostruário, passar nos lábios, dar um beijinho num guardanapo que trazia uma frase bem alto astral estampada e pegar um voucher pra troca nas lojas da rede. Os guardanapos beijados iam sendo amarrados a balões de gás que foram liberados para o céu de Curitiba às 16h. Não vi a revoada, mas, anyway, achei eles presos muito lindos. Massa. Saímos de lá lindas e rebocadas de batão (menos o Milton, que mesmo sem beijar o guardanapo ganhou um voucher graças à glamourosa presença) e fomos trabalhar. Fizemos inveja pras amg com nossos vouchers e o dia seguiu.

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Sábado cedo, sol lindo, temperatura amena. Fui fazer o quê? Curtir no parque com o Miguel. Trabalhar. Saí da Polvo perto da hora do almoço e segui pra ‘quem disse, berenice?’ da Comendador Araújo. Entrei na loja e foi meio que atravessar um portal. A experiência foi quase comovente. Vocês terão a oportunidade de saber do que estou falando lendo o relato abaixo, mas recomendo muito que visitem uma loja (principalmente os meninos, para assim poderem me dar presentes):

Tocava uma música legal dos anos 80 (desculpa ser adulta e gostar dessas coisas) e tinha um cheiro gostoso (não sinistro inesquecível cefaleia, como na ZARA). Entrei e ninguém falou comigo (AMO). Dei uma olhada geral e pedi ajuda pra achar um delineador. A mocinha que me atendeu devia ter metade da minha idade e não me julgou por eu ser eu naquele lugar – sorriu, foi solícita e simpática. Me mostrou os dois modelos disponíveis, fiz umas perguntas, escolhi qual eu preferia e ela me deu uma sacolinha fofa, pequena (suficiente pra caber um monte produtos da loja, já que todos os produtos são pequenos) com meu escolhido dentro – seria a cestinha em outra loja. Aí comentei sobre o voucher, esperando ser tratada como uma cliente usando cupom do Peixe Urbano. Ela vibrou com sinceridade: “NOSSA, que legal que você tem o voucher! Escolhe ali o teu batom.” Escolhi – SOZINHA, muito amor. Aí dei um rolê geral, desejei tudo – peguei também um esmalte e cobicei os perfumes, todos bem doces e com cheirinho de frutas.

Fui pro caixa. A moça que me atendeu elogiou horrores o esmalte que eu escolhi, elogiei o esmalte que ela estava usando. Ela me explicou como tinha conseguido chegar naquela cor, tentou fazer o mesmo com os demonstradores da loja, não conseguiu – e não tentou me fazer levar nenhum deles. Me orientou sobre quantas mãos passar daquela cor que eu escolhi pra ficar bem fechadinho, anotou com alegria meus dados da troca do voucher, enquanto eu elogiava os perfumes. Ela perguntou de qual eu tinha gostado mais e me deu uma amostra.

Gastei trinta e poucos reais e ainda saí com um batom grátis. Tinha tudo pra ser tratada como uma qualquer (que de fato sou), mas me senti especial demais. As meninas do caixa se despediram sorrindo, me disseram pra voltar na próxima semana, logo a coleção primavera verão de esmaltes estará nas lojas – e os esmaltes terão cheirinho! Me desejaram bom findi, tchau, beijo, sorrisos, uma coisa muito inédita. Todas as meninas pareciam estar trabalhando com alegria e eu acho que é que todo mundo deveria sentir no trabalho – eu sinto e isso me faz feliz demais. A simpatia era sincera, não era mecânica e nem parecia ser ensaiada. Ninguém tentou me empurrar nada, nem me julgou por eu não estar linda e maquiada, ter gastado nem 40 pilas e ainda levado um batom na faixa. As embalagens, os displays, as vendedoras, TUDO era lindo e arrumadinho, alegre, colorido. Saí bem apaixonada e, pra completar, cheguei em casa e fui ler as embalagens: instruções de uso e armazenamento são escritas no modo “amiga”, sem aquela linguagem tradicionalmente empolada que normalmente se usa pra esse tipo de informação. Coisas como: “Quer bater um papo, tirar dúvidas? Liga pra gente no 0800 726 6482, entra lá no site www.quemdisseberenice.com.br ou manda um email pra oie@quemdisseberenice.com.br, a gente adora conversar!”.

Aprendi um monte – sobre PDV e embalagem, sobre como tratar e ser tratada no varejo, sobre como é fácil passar delineador com um aplicador no formato de caneta. Adorei tudo, e a coisa toda não durou nem 15 minutos. Voltarei pra comprar o perfume de laranja e os esmaltes com cheirinho, pelo menos. Que aula ótima in loco. E que gostoso é não precisar puxar sacos e ter falar bem do que é ruim! Vou fazer mais disso, pratique você também – eu acredito.

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Tibagi e Guartelá – papéis de parede

Parque Estadual do Guartelá, Tibagi. Foi onde passamos o último feriado de Corpus Christi. Não é a primeira vez que vamos, e não deve ser a última. O lugar é mágico, pacífico, ermo e aconchegante. E frio para cacete.

Como lembrança, dessa vez, selecionei vinte imagens e formatei com tamanho 1920×1080 para serem usadas como papel de parede. Segue minha humilde seleção, fique à vontade.

Clique para ampliar. Para salvar, botão direito.

joao | fotografia | Deixe um comentário

De quê um bebê precisa? – ou – do que a internet se alimenta?

Há alguns dias uma amiga compartilhou, ou curtiu, ou recomendou (ou não foi nada disso: grande chance) um link no Facebook que me emocionou: Bebês dormem em caixa de papelão na Finlândia. O título não é algum tipo de chamariz de audiência, a matéria é exatamente sobre isso: há 75 anos, o poder público da Finlândia distribui um kit a todo recém-nascido cuja mãe esteve ao menos uma vez num consultório da rede de saúde pública do país até os quatro meses de gravidez. Roupinhas, itens de higiene, fraldas, lençóis e uma caixa de papelão cuja finalidade, além de organizar essa cacarecada toda, é servir de berço pro bebê. Além de manter o bebê seguro (era hábito colocar a criança pra dormir na mesma cama que os pais, deuzolivre), a caixa também tornou-se o símbolo da forma como o governo vê seus cidadãos. Os finlandeses nascem iguais, depois disso a responsabilidade é de quem cria.

130604125956_bebe_caixa_editOi, eu sou um bebê. Pra resumir, eu preciso da minha mãe. :)

A igualdade e a simplicidade da iniciativa me comoveram. Um bebê saudável, falando em termos de coisas, não precisa mesmo de muito mais do que a Finlândia oferece. Fora isso, bastam amamentação, colo, higiene, amor. Coisas de animal que nós, civilizados, também sabemos prover.

Uns dias passaram e alguém da minha timeline (desculpa, amigo/a cuja identidade esqueci: estou falando de você) interagiu com esse conteúdo:

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São recém nascidos acondicionados em caixas de papelão. Elas não estão sujas, ou boiando, ou infestadas. Bebês cabem numa caixa de papelão, então me parece ok que crianças saudáveis em um ambiente saudável possam ficar numa caixa de papelão, assim como poderiam estar em um berço, ou em um aquário, ou no colo de alguém. Não precisa ser na FINLÂNDIA. Neste momento, o Kisuco cerebral ferve e gente como eu pensa o seguinte:

1. Seria isso o BRAZIU mesmo?
2. Em sendo isso o BRAZIU, por quê da indignação das amg no FB?

Tentando encontrar (em vão) a resposta para a primeira questão, uma coisa descobri: a foto não é brasileira, não é atual, não é obra da Dilma – ainda que algumas fontes sugiram que é arte de médicos cubanos. Pode ser na Venezuela, pode ser no México, também. Meus hackpowers não me levaram à resposta exata. Mas não foi semana passada e não foi na Bananaland. A publicação alcançou números escandalosos de engajamento graças a uma informação truncada. Muita, MUITA gente replicou essa imagem e xingou muito nas últimas semanas, certamente infectada pelo contágio emocional causado pelas manifestações do contra que vêm acontecendo recentemente. Acho ótimo que as pessoas apontem seus dedos pra aquilo que não está funcionando e estou amando esse momento de indignação popular. Tenho certeza que muita coisa não está funcionando, incluindo atendimento hospitalar a recém nascidos, mas procurar a fonte antes de mandar adiante é a regra número um da internet (a número zero, sempre válida: NÃO É A VIDA, é só a internet).

A resposta pra segunda questão envolve aspectos sociais e me sinto ignorante suficiente em sociologia pra opinar. Os tempos atuais são muito loucos no tratamento do resultado da reprodução humana. As mulheres são praticamente obrigadas a terem filhos; as gravidezes são praticamente obrigadas a serem momentos de puro êxtase compartilhados e os bebês são obrigados a deixarem seu papel de crianças para serem alçados ao papel de gente pequena, posando desde a fase intrauterina e ostentando COISAS/coisas de grife. E às vezes essas situações também ter que ser compartilhadas, via de regra no formato perfil do Facebook de um ser analfabeto e incapaz de decidir se quer ter a vida publicamente exposta no nível pormenores, com gente emulando suas falas – no padrão John Travolta naquele filme bizarro, só que sem a ironia, que salvava o bebê do filme.

katie-holmes-suri-cruise-hermes-bags-02Suri Holmes carrega sacolinha Hermes igual à da mamãe. TSÁ?

Sei lá, né, gente? Coisas são para os grandes – quando eles têm desejo, condições e necessidade, preferencialmente. Temos tão pouco tempo com os pequenos e eles têm tantas outras demandas. Temos aí tanta grama a ser pisada, jogo a ser jogado, história a ser contada, de comida a ser provada, de experiência a ser vivida. Dá pra ser bem mais com bem menos, ninguém precisa de enxoval de Miami pra ter dignidade. Taí a Finlândia pra provar isso – país que, além do kit para os recém nascidos, trouxe-nos o campeão Kimi Raikkonen e também dá ao mundo uma lição de educação e coloca seus alunos  no primeiro lugar do PISA – Programa Internacional de Avaliação de Alunos, promovido pela OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Aqui tem um conteúdo bem completo sobre esse tema.

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Gente em tempos exponenciais

Não sei como foi/é/será viver em outros tempos, mas ultimamente uma frase sincera não sai da ponta da minha língua: que época para se viver!

Estou em estado de incansável encantamento pelos tempos atuais. Tudo é tanto que não há fim – eventos, conexões, ideias, destinos, livros a serem lidos, filmes a serem vistos, trabalhos a serem realizados. Se antes os amigos eram os vizinhos, primos ou colegas da escola, hoje eles atravessaram o mundo e estão mais presentes do que se vivessem na mesma cidade. Dezenas de fotos a serem conferidas diariamente, de momentos a serem compartilhados. Eu curto. E amargo a angústia de não ser capaz de ser/estar/fazer todas as coisas ao mesmo tempo.

avenida-paulista-1891Vc viu as fotos comoventes da Avenida Paulista na semana passada, durante as manifestações da “Revolução do Vinagre”? Pois saiba que essa reprodução aí data de 1891, quando a avenida foi inaugurada. 

Gente – nós – somos os grandes atores (mentores, mocinhos e vítimas) desses atuais tempos exponenciais. Uma bolinha de neve que começou a rolar na revolução industrial e que hoje, ao mesmo tempo em que nos encanta com seu poder de conectar, resolver, melhorar, também nos oprime com a velocidade com que somos obrigados (quando questionamos?) a nos adequar às mudanças, mexendo em hábitos enraizados e até mesmo em valores que estavam guardados há séculos numa prateleira empoeirada do nosso ser social.

Não questiono a evolução e acho que ela tem sim que acontecer, mas sofro por todos nós ao pensar na forma como estamos interagindo com esse sem fim de informação a que estamos sendo expostos. Como lidar? Há alguéns nas entranhas do nosso sistema educacional que esteja a par da velocidade com que os fatos se transformam, se renovam, e que, com base nisso, esteja revendo a forma como as crianças aprenderão? E o conteúdo que essas crianças aprenderão, considerando que, em casa e por si mesmas, elas podem escolher a informação a que querem ter acesso? E os adultos, como se manter economicamente ativo, relevante, atualizado? A quem cabe filtrar esse conteúdo, ou ele não deve ser filtrado e a seleção natural vai se ocupar de manter os links mais relevantes ao alcance daqueles mais evoluídos que sabem procurar melhor – uma reprodução com ares futurísticos daquilo que acontece naturalmente nas salas de aula?

Não tenho nenhuma resposta; se pensar muito, talvez chegue a um palpite. Gosto desse papel de participar observando, fazer parte analisando. Talvez em alguns anos alguém leia este texto e se choque o quanto eram simplórios meus questionamentos. Pra você, que chegou aqui em 2023, garanto: não está sendo fácil em 2013. Mas está sendo grandioso!

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Big Data para Crimes Digitais – uma solução trivial

OK, vou dar essa colher-de-chá para a polícia. Vou descrever o sistema que acabei de imaginar, que vai esmagar o número de fraudes online, roubos de dados de cartão e invasão de internet banking. É uma ideia poderosa, afirmo. Decidi divulgá-la baseando-me na máxima de que a ideia é apenas 1%. Precisamos achar alguém com a capacidade de planejar e executá-la até o fim. Se esse alguém é você, fique à vontade.

CybercrimeTudo começa com a criação pela Polícia Federal de um endereço de email golpesonline@dpf.gov.br. Esta conta não será tratada por um humano e deve ficar bem claro para a população que não há benefício imediato em enviar emails para este endereço.

Sempre que um cidadão receber um email de fraude digital, ele deve encaminhar para o endereço golpesonline@dpf.gov.br. Assim, todo dia esta caixa postal receberá milhares de emails com mensagens de golpes. São aqueles exemplos típicos de “revalide sua tabela de senhas”, “seu nome está no serasa”, “seu cheque foi recusado” e diversas outras safadezas.

Todos os emails serão lidos por uma máquina. Um sistema ao qual daríamos algum nome estiloso, como Oráculo da Covardia. Sim, oráculo porque será um grande sábio. Covardia por estar relacionado ao crime digital, uma das classes mais covardes de crime, onde o autor se esconde no anonimato e na incapacidade da polícia de tratar pequenos delitos. Certos da impunidade, os covardes aplicam seus golpes sem pudor de lesar o mais humilde, leigo ou necessitado. OK, o nome é péssimo, podemos trabalhar isso melhor depois.

Sozinho, o email de golpe não tem muito poder. A polícia não tem condições de investigar cada ocorrência. São milhares. Já o conjunto desses emails cria uma base estatística incrível. Surge aqui uma base de conhecimento relevante, capaz de ajudar as autoridades a usar seus recursos de maneira eficiente para capturar esse covardes vagabundos.

O Oráculo da Covardia analisará cuidadosamente cada email recebido, criará padrões, confrontará remetentes, investigará sites. Tudo automaticamente, a fim de manter a escalabilidade do processo. Técnicas para isso já existem há décadas, e as recentes evoluções em data mining em grandes quantidades de dados poderão sem dúvida selecionar os principais suspeitos e ajudar a polícia a atacá-los de forma eficiente. Há normalmente uma conta bancária, um laranja, um endereço de email, um site registrado, algo não anônimo envolvido. Há sempre um jeito de rastrear o dinheiro.

crime_digitalDentre os milhares de emails, não será difícil identificar as principais fontes, os principais golpes, os focos de disparo, os principais beneficiados. E, além de investigar e punir, será também possível prever e conscientizar. É o big data contra o crime.

As ideias estão no ar. Esta aqui, se já não existe implementada em algum lugar, com certeza já passeou por diversas cabeças. Não me parece uma execução difícil. Basta algum conhecimento técnico e botar pra fazer. Fazer um piloto e demonstrar a capacidade da solução. Depois disso, é só apresentar às autoridades competentes, buscando uma parceria para colocar em funcionamento oficial.

De fato, este assunto é muito sério. Dê uma olhada nesse dado:

De acordo com a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), os crimes físicos deram um prejuízo de R$ 75 milhões em todo o país no ano passado contra R$ 1,4 bilhão de perda por conta dos ‘assaltos virtuais’.

Ou seja, todos aqueles roubos de caixas eletrônicos, “saidinha” de banco e demais fraudes físicas representam apenas 5% do prejuízo causado pelos crimes virtuais. Além do prejuízo em si, isso ainda coíbe o desenvolvimento da atividade econômica online. Um ambiente onde a fraude é tão alta é ruim tanto para consumidores quanto para lojistas. O lojista tem que se precaver investindo em controle e análise de fraudes. O consumidor acaba pagando essa conta e, muitas vezes, é confundido com um larápio virtual e tem sua compra negada.

E aí, vamos encarar?

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Começamos

Polícia despreparada

A polícia despreparada é apenas uma manifestação do Estado ineficiente em que vivemos, não de seu suposto autoritarismo.

Desculpe-me por desapontar algumas pessoas, mas não há nenhuma conspiração ditatorial contra os pobres e oprimidos. Há apenas uma polícia despreparada e desorganizada, características típicas das instituições públicas do nosso País. Vamos em frente.

As manifestações desta semana foram um ótimo começo. A sociedade se organizando e se fazendo ouvir. Queremos isso sempre, seja contra o aumento da passagem, contra a corrupção, contra a gastança pública, a favor da transparência, a favor do Brasil que sonhamos. Sejamos objetivos com o que queremos.

A polícia se comportou mal, é preciso falar, comentar, compartilhar, mas não transformemos isso no centro da questão. A polícia evoluirá e aprenderá a conviver com manifestações pacíficas. Lembremos que isso não é uma guerra civil. A polícia despreparada é apenas uma manifestação do Estado ineficiente em que vivemos, não de seu suposto autoritarismo. Não temos que personificar o mal através dos governantes. A evolução é construtiva.

Manifestação São Paulo, Junho, 2013

A evolução é construtiva. É preciso participar.

Não podemos nos fazer de coitados. Primeiro, criticamos a mídia porque ela condena. Depois, criticamos a polícia porque ela reprime. Depois, criticamos a mídia porque ela mudou de opinião. E tudo isso viram centro da questão. Não se fala mais da passagem, só da mídia e da polícia. Depois dizemos que não é pela passagem, que não são vinte centavos, que é tudo. Se é tudo, não é nada.

Vejo que essa indecisão faz parte do processo. É a primeira manifestação em muito tempo. Talvez a primeira legítima depois das Diretas Já (caras pintadas, hmm, maybe). Ainda estamos deslumbrados com nosso poder, embriagados pela primeira vez. Fico muito feliz. Estamos aprendendo. estamos no caminho. Alckmin e Haddad tomaram pau juntos. Daqui pra frente, para governar, será preciso ouvir mais.

Vamos em frente, vamos construir. Sem violência. Protestar, gritar, incomodar, participar.

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Me dreaming too

This is all a dream we dreamed one afternoon long ago.

joao | vídeo | 1 Comentário